Joilson Santos tem 54 anos, ele nunca gostou de dançar, mas quando se trata de suas filhas é capaz de mudar qualquer perspectiva. “Onde que eu imaginava que fosse fazer isso?”, brinca o pedreiro.
Esse super pai divide desde de março o seu tempo entre o canteiro de obras e o estúdio de balé, localizado no Centro Cultural Maestro Miro, em Feira de Santana, na Bahia.
“Quando minhas filhas foram diagnosticadas com transtorno do espectro do autismo, eu queria fazer tudo para que elas ficassem bem”. A dança representa para elas parte de um tratamento terapêutico, conhecido como “ballet azul”, cor relacionada ao autismo.
Pedreiro é o único homem
Único homem nas aulas, Joilson não tem sapatilhas. Ele calça uma meia preta. Aos poucos, vai aprendendo os passos e quando uma filha erra o movimento, tenta corrigi-la, mostrando como se faz. Os nomes franceses das posições também são um desafio para o papai “bruto”.
A mulher Jaqueline brinca dizendo, “Quando que imaginei que meu marido, bruto desse jeito, ia dançar balé?“
Preconceito
Recentemente Joilson participou de uma apresentação porém era o único homem dançando, a plateia não tirava os olhos dele, ndo. “Ele é muito tranquilo. É o comportamento de quem sabe o que está fazendo, o que se deve fazer, sem nenhum afetamento, nenhuma exibição”, diz o diretor de atividades culturais, Luiz Augusto Oliveira.
Logo a notícia se espalhou pela vizinhança do bairro, mas de uma maneira que Jaqueline não gosta de lembrar muito. “Não gosto nem de falar sobre isso. Já falaram muita coisa feia para a gente”, lembra Jaqueline.
Veio provocação até mesmo da própria família. O irmão Juaci Salomé perguntou em tom de gozação: “Tá fazendo balé agora, Joilson?”.
Hoje, Joilson, não dá mais tanta importância para esses comentários. Os motivos para frequentar as aulas de balé com as filhas são mais fortes do que o julgamento dos outros, bem mais fortes!
“Aqui é discriminação de tudo”, resume.
Texto originalmente publicado no UPSOCL, livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Saber Viver