Centenas de médicos no Quebec estão protestando contra o aumento de seus salários, afirmando que já ganham muito dinheiro.
Quase 900 médicos, residentes e estudantes de medicina da província canadense haviam assinado uma petição online até esta segunda-feira (12) pedindo que seus reajustes salariais fossem cancelados.
Entenda como funciona o sistema de Saúde do Canadá
O sistema de saúde do Canadá é público, e sua gestão é tarefa dos Governos provinciais. No começo de fevereiro, o Governo quebequense anunciou um aumento salarial para quase 20.000 médicos da província francófona: 1,4% a mais para os especialistas, e 1,8% para os clínicos gerais, o que representaria um gasto de 1,5 bilhão de dólares canadenses (3,8 bilhões de reais) nos próximos oito anos.
Um médico especialista do Québec ganha em média 367.000 dólares (930.817 reais) por ano, enquanto um clínico geral recebe 255.000 dólares (646.753 reais).
Um grupo chamado Médecins Québécois Pour le Régime (MQRP), que representa médicos e advogados do Quebec na saúde pública, iniciou a petição em 25 de fevereiro. Solicitaram ao Governo dessa província canadense que seus salários fossem equiparados ao de colegas seus que trabalham em outras regiões do país.
“Nós, médicos do Quebec que acreditamos em um sistema público forte, nos opomos aos recentes aumentos salariais negociados pelas nossas federações médicas”, diz a petição escrita em francês.
Poucas medidas governamentais foram tão impopulares nos últimos anos como esses reajustes. Jornalistas, cidadãos e políticos de oposição reagiram com veemência, por razões específicas.
O sistema de saúde do Québec apresenta sérias dificuldades em aspectos como os prontos-socorros, as condições trabalhistas para o pessoal de enfermagem e o atendimento domiciliar, em decorrência de cortes promovidos pelo Governo liberal.
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Além disso, o custo de vida é inferior ao da maioria das províncias canadenses. Nessa avalanche de descontentamento, até mesmo um número expressivo de médicos veio a público para criticar o aumento salarial.
Crítica nas redes
Em janeiro, a situação foi resumida em uma publicação viral do Facebook por uma enfermeira chamada Émilie Ricard, que publicou uma foto de si mesma, com o olhar marejado, depois do que ela disse que ter sido um plantão extenuante. Ricard disse que era a única enfermeira a cuidar de mais de 70 pacientes no andar do hospital onde trabalha. Ela estava tão estressada que tinha cãibras que a impediam de dormir.
“Esta é a face da enfermagem”, escreveu Ricard, criticando o ministro da Saúde do Québec, Gaétan Barrette, que considerou as recentes mudanças no sistema de saúde um sucesso.
A publicação de Ricard já foi compartilhada mais de 55.000 vezes.
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Declaração polêmica do Ministro
Um dia depois da petição e de protesto dos médicos, Gaétan Barrette, ministro regional da Saúde, disse que “se [os médicos] sentem que são excessivamente pagos, podem deixar o dinheiro sobre a mesa. Eu garanto a vocês que saberei lhe dar bom uso”.
Já Philippe Couillard, primeiro-ministro quebequense, comentou na sexta-feira, durante uma visita à França, que levará em conta as diferentes opiniões para a negociação de futuros acordos, mas que não cogita modificar o que assinou para o aumento de salários.
Até o momento, tanto a Federação de Clínicos Gerais como a Federação de Médicos Especialistas não se manifestaram publicamente sobre a discordância de uma boa parte de seus membros contra os reajustes.
Cabe destacar que o Governo liberal recebe críticas há vários anos por seus cortes em serviços de saúde e por sua relação de proximidade com as entidades de classe dos médicos. Barrette e Couillard são médicos de profissão. O Governo diz que não cederá, embora a pressão da opinião pública esteja crescendo e haja cada vez há mais médicos apontando que um aumento nos seus salários é um gesto indigno, quando existem temas de maior prioridade no sistema de saúde do Québec.
* Nota: As informações e sugestões contidas neste artigo têm caráter meramente informativo.
Via:El Pais