Quantos de nós, mais novos que dona Luísa, já nos privamos de experiências importantes, vivências que nos engrandeceriam, em razão da ilusão de que não valeria a pena o esforço por já não termos “idade para isso”? Vez ou outra nos aparecem pessoas como dona Luísa para nos lembrar da verdade que aquela antiga frase de Fernando Pessoa encerra: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Luísa Valencic Ficara, de 87 anos, italiana, veio para a América do Sul no período da Segunda Guerra Mundial. Morou em três países sul-americanos até se mudar para Jundiaí, no interior de São Paulo, onde vive há mais de 40 anos. Em entrevista ao G1 ela relembra o momento de sua formatura: “Fui contente por terminar a minha tarefa. Achei que fosse ficar nervosa quando fosse receber o diploma, mas na hora estava bem calma”.
Com o falecimento da irmã e do marido, a idosa conta que decidiu “ocupar a cabeça” e, por isso, se matriculou na faculdade. Após seis anos de curso a imigrante conseguiu o tão sonhado diploma. Na cerimônia não havia nenhum parente da idosa, que mora sozinha, mas isso não diminuiu sua alegria. “Ganhei muitos abraços do mestre de cerimônia e da turma toda. Foi lindo”, comentou.
Rachel Ciaramella da Silva acompanhava a colação de grau de uma prima quando se supreendeu ao ver todos de pé para aplaudir Dona Luísa.
“Foi muito emocionante. Quando ela entrou, todo mundo ficou de pé e eu fiquei sem entender muita coisa, mas assim que a vi já que toda aquela homenagem era um presente para o esforço dela. Imagine, 87 anos e se formar na faculdade. Tem que comemorar”, comentou.
“O que me maltratou um pouco foi que eu não sabia nada de computação”, conta dona Luísa. Isso, contudo, passou longe de ser um obstáculo intransponível para ela, que fez todo o seu trabalho de conclusão de curso (o TCC), sobre a cana-de-açúcar no Brasil, à mão. Foram os funcionários da faculdade que ajudaram a idosa a digitar todo o trabalho para ser apresentado à banca.
Mesmo com o diploma em mãos, nos planos de dona Luísa não pensa em parar de estudar tão cedo. A idosa – que também escreve poemas e frequenta aulas de alemão, inglês e francês – já pensa em ingressar na pós-graduação.”Eu sei que vai chegar a hora de parar, mas enquanto isso eu vou em frente. Muita gente com a minha idade passa a maior parte do tempo dormindo”, conclui.