Por Valeria Sabater
As pessoas que sofreram de depressão ou aquelas que estejam a caminho de superá-la, sem dúvida, sabem o que queremos dizer com o termo “sofrimento silenciado” .
Para entender melhor, vamos colocar um exemplo simples. Alguém nos pergunta, o motivo de nossa ausência no trabalho, ou talvez, tenha curiosidade em saber por que parecemos um pouco mais cabisbaixos, magros, apáticos…
Quando pronunciamos a palavra “depressão” muitos, não sabemos como reagir, Aqui não se encaixa um “já já passa”, ou um “você verá como esse remédio lhe fará bem”. O processo é mais complexo, profundo e meticuloso. Às vezes é mais fácil dizer que temos a gripe A, pois uma doença, sem dúvidas, é mais fácil de assumir e de compreender. No entanto, uma depressão não é tão simples assim.
Também não é fácil compartilhar com os filhos ou com o parceiro. Por isso, às vezes, acabamos silenciando a dor para escondê-la um pouco mais do mundo, que segue sem entender ou aceitar esse tipo de processo. Há quem diga que a depressão é uma forma moderna da “lepra”. Talvez pareça um pouco exagerado, mas como ela fica silenciada em muitos dos nossos âmbitos (inclusive o familiar), começaremos a acreditar que, talvez, seja assim mesmo.
Depressão, o mal moderno
É curioso a capacidade do ser humano de se destruir sem apertar qualquer botão. Costumam dizer que a depressão é o mal moderno por excelência . Que as pessoas de hoje em dia são incapazes de administrar adequadamente as emoções, o estresse, os fracassos, a tristeza ou as perdas.
Apesar dos milhões de livros de autoajuda que são publicados todos os anos, nada disso parece dar uma resposta adequada às nossas necessidades. As indústrias farmacêuticas enriquecem diante do aumento nas vendas de antidepressivos ou ansiolíticos, que são cada vez mais receitados nas consultas de psicólogos e psiquiatras. É uma espécie de círculo de Karma, onde uma coisa leva à outra e onde não parece haver saída.
E, com efeito, a depressão é aquele mal moderno tão bem conhecido, mas ao mesmo tempo tão pouco respeitado. E às vezes, até silencioso. Não é fácil assumir na unidade familiar, muito menos onde trabalhamos. Por quanto tempo devemos ficar de licença? Será que podemos calcular o tempo que vai demorar para superar a depressão?
Às vezes, é mais fácil, certamente, silenciar o sofrimento e nos obrigar a levar uma vida“normal”. Não sair do trabalho, dizer que estamos bem em casa, que as coisas estão melhorando e tomarmos a medicação que foi prescrita… assim o problema andará mais rápido, enganando nosso cérebro.
Depressão não é crime, não esconda
Não se trata de expressar nossa raiva ou desconforto com tudo aquilo que enfrentamos. Trata-se, apenas, de não esconder o sofrimento como se ele fosse um crime, ou algo do que devemos nos envergonhar. Uma depressão não é curada do dia para a noite, também não há estratégias infalíveis que sirvam igualmente para todos.
Todos nós somos um universo único e particular, nenhuma depressão é semelhante a outra e devemos ser sempre nós mesmos. Com força de vontade e tempo, conseguiremos sair dessa. Entretanto, às vezes, é necessário um tratamento farmacológico e também terapêutico, e o apoio social também é indispensável. É aí que, às vezes, nos encontramos com o “grande” problema.
O sofrimento silenciado será o pior inimigo nesses casos. Não é necessário evitá-lo, não é possível escapar dele e muito menos enterrá-lo como se ele não existisse. O sofrimento existe, assim como a ferida que aparece quando nos machucamos; é reflexo de que estamos feridos e, como tal, precisamos nos curar. De que modo?
Não há uma resposta mágica, não há um tratamento eficaz para todos. Você deve ser seu próprio mestre nesse caminho rumo à recuperação, então você deve ver-se, reconhecer-se, aceitar-se tal e como você é, com o sofrimento incluso, porque a vida não é sempre perfeita.
A depressão, como muitas outras doenças, enfrenta-se com o coração, com a cabeça, com todas as suas forças e com apoio emocional. Sem silenciá-la.
Texto originalmente publicado no Lamente es Maravillosa, livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Saber Viver Mais