Dra.Angelita Habr-Gama, de 88 anos, é uma das mais renomadas gastroenterologistas do país, acostumada com diagnósticos e cirurgias complexas, se tornou uma paciente em estado gravíssimo no início de março.
Os pulmões de Angelita estavam comprometidos por causa do coronavírus e ela foi internada em estado grave, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do mesmo hospital que trabalhava.
A médica tinha muitas dificulades para respirar pelas vias naturais, e precisou urgentemente ser intubada. “Não achei que resistiria. Era um quadro muito grave”, diz Angelita à BBC News Brasil.
Dra Angelita além de ser da área da saúde, ainda era do grupo de risco , por sua idade. Ela foi internada então no dia 18 de março e travou uma verdadeira batalha de lá para cá.
Dra. Angelita passou 50 dias na UTI e não presenciou o avanço da Covid-19 no Brasil, ela só foi saber da verdadeira situação após voltar da sedação e recobrar consciência.
“É um vírus muito agressivo. Ele se propaga com muita facilidade e como ainda não se conhece muito sobre as características dele, é mais difícil tratar. Mas é preciso ser otimista. É grave, mas nem sempre é letal”, reflete a cirurgiã.
Dra. Angelita e o marido realizaram em fevereiro uma viagem para a Europa, seguiram até Jerusalém, onde participaram de um congresso internacional de Medicina. Referência em coloproctologia, área que estuda doenças do intestino, grosso, reto e ânus, a médica é presença constante em eventos da área da saúde em diversos países.
Ao retornar para casa a médica deu uma festa para 400 pessoas em comemoração do lançamento de sua biografia “Não, não é resposta”, assinada pelo escritor Ignacio de Loyola Brandão.
Essa volta ocorreu dia 28 de fevereiro, alguns dias depois a médica começou a apresentar sintomas da Covid-19, febre alta e tosse intensa foram uns dos sintomas. No início Angelita não achou que se tratava do novo Coronavírus. “Ainda havia poucos casos no país”, justifica.
Após uma tomografia, foi possível ver que os pulmões dela estava comprometidos, o que se assemelhavam muito com um paciente com o novo coronavírus. Após o exame foi confirmado que a médica estava mesmo com Covid-19. O marido dela também foi infectado, porém apresentou sintomas leves.
A cirurgiã acredita que contraiu a Covid-19 durante a viagem internacional. Entretanto também não descartou a possibilidade de ter sido infectada durante o lançamento da sua biografia, onde distribuiu abraços e beijos.
Angelita disse que dois dias após dar entrada no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o quadro piorou, então ela foi sedada. “A partir dali, não me lembro de mais nada”, revela. Ela permaneceu sedada na UTI.
A cirurgiã já trabalha no Osvaldo Cruz há 60 anos, ela teve um intenso apoio para se recuperar. Ela conta que são foi possível se recuperar graças à toda assistência que teve para que pudesse fazer uma boa recuperação.
Mas a médica admite que o tratamento que teve não é a realidade para grande parte dos brasileiros. São muitos relatos de pacientes contaminados com o novo coronavírus que morreram à espera de leitos de UTI. “Dar uma boa assistência ao paciente é fundamental para que ajudá-lo a ter uma boa recuperação”, comenta Angelita.
Arquivo Pessoal
No dia 10 de maio, recuperada, Dra. Angelita teve alta médica. No dia o hospital emitiu um comunicado. “Angelita Gama é uma referência para todos nós. Vê-la curada, depois de uma intensa batalha contra o vírus, renova nossa confiança na Medicina, na Ciência, na luta para salvar vidas e traz imensa alegria a todo o corpo clínico e assistencial da instituição”, disse nota divulgada pela unidade.
A médica teve perda de peso e fraqueza muscular, imediatamente iniciou um acompanhamento para ter uma recuperação mas rápida da doença. “Progressivamente, as coisas foram voltando ao normal. O meu paladar voltou, passei a me alimentar bem e fiz muitas sessões de fisioterapia respiratória”, conta.
Após três dias prestando somente atendimentos, finalmente Dra. Angelita voltou a conduzir procedimento cirúrgicos. Já foram 10 cirurgias realizadas nesses últimos 20 dias. “Foi uma delícia voltar a trabalhar”, diz.
Por causa do quadro atual, a médica que já realizou mais de 50 mil cirúrgias, disse que só estão sendo operados alguns casos. As operações eletivas reduziram em todo o país “Temos feito apenas os casos mais importantes, como um tumor que não pode esperar muito tempo, uma infecção abdominal ou uma hemorroida que está causando muita dor. Estamos focando nos casos mais graves”, diz.
Para a cirurgiã, a covid-19 foi apenas mais um episódio, de sua vida. “Não foi fácil vencer a covid-19, mas depois que venci essa barreira, as coisas se tornaram ainda mais agradáveis. Eu quero continuar exercendo a minha profissão. Estou bem de saúde e intelectualmente. Assim, vou levando a vida.”
Com informações: BBC
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