Um amplo levantamento que compilou e comparou os dados de 185 estudos científicos sobre a fertilidade, realizados entre 1981 e 2013, aponta para uma redução média de até 52% na contagem de espermatozoides em homens nesse período.
A queda pela metade na produção das células reprodutivas masculinas se verificou entre os homens “ocidentais”, como classificaram os pesquisadores do Hospital Mount Sinai, de Nova York. A categoria inclui homens que vivem nos Estados Unidos, Europa, Austrália e Nova Zelândia.
Não há dados suficientes, no levantamento, que permitam verificar se o mesmo ocorreu no Brasil. “Mas é possível especular que o declínio esteja ocorrendo por aqui também”, afirma o brasileiro Anderson Joel Martino Andrade, professor e pesquisador no Departamento de Fisiologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Ele participou do trabalho no Mount Sinai, onde obteve seu pós-doutorado em epidemiologia reprodutiva.
“O estudo agrupou e avaliou os resultados de outros trabalhos científicos. Selecionamos 185 pesquisas entre mais de 7,5 mil publicadas entre 1981 e 2013. Com um universo de 42 mil homens”, explica Andrade.
Levando-se em conta que é um fenômeno que possivelmente envolve fatores ambientais, possivelmente eles também estão presentes em países como o Brasil.”(Anderson Joel Andrade, pesquisador da UFPR)
Uma vez selecionados os estudos, os dados foram analisados com o auxílio de softwares especializados em estatísticas. “Os homens que colheram material para avaliação em 2011 tinham uma contagem de células reprodutivas 52% menor, em média, que outros em mesma situação mas que entregaram o sêmen no início da década de 1970.”
Mesmo se considerados também os homens que já se sabiam férteis quando fizeram a coleta, houve queda (de 31%) na contagem de espermatozoides ao longo do período avaliado.
Cigarro, obesidade e agrotóxicos, vilões também aqui
“É um dado impactante”, avalia o médico César Augusto Cornel, presidente dos delegados da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), entidade que reúne profissionais que atuam na área. “Mas, como todo estudo, ainda precisa de complementos. É preciso avaliar outras regiões. Não tenho conhecimento no Brasil de um estudo semelhante. E é preciso haver cautela, não é caso de alarmismo”, ele pondera.
No caso do levantamento conduzido no Mount Sinai, uma das limitações é o fato de se ter analisado apenas um entre uma série de fatores que pode causar infertilidade em homens, a contagem e a concentração de espermatozoides disponíveis. Outros, como a mobilidade e a morfologia (isto é, a forma das células reprodutivas) também são importantes. “Um critério isolado, às vezes, não significa que um paciente seja infértil”, afirma Cornel.
Embora o trabalho realizado em Nova York não tivesse como objetivo apontar quais as causas da redução na produção de espermatozoides, Andrade e Cornel apontam para os mesmos suspeitos a respeito do que poderia estar por trás do problema.
“Fatores ambientais como exposição a substâncias químicas, inclusive agrotóxicos, tabagismo, seja na idade adulta ou da mãe, durante a gestão, estresse e obesidade estão associados com problemas na fertilidade masculina”, diz o pesquisador da UFPR.
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Fumar, ser sedentário, beber em excesso, usar drogas, anabolizantes para desenvolvimento muscular ou sintéticos de hormônios como a finasterida (indicada para o tratamento da calvície masculina) podem afetar a fertilidade”(César Augusto Cornel, médico)
“Homens que trabalham diretamente com pesticidas, na produção de plásticos, na indústria química, que lidam com derivados do petróleo, apresentam redução da qualidade dos espermatozoides. Isso já é conhecido: são agentes que funcionam como um quimioterápico, diminuindo a reprodução celular.”
Andrade trabalha, na UFPR, num estudo piloto que mediu a concentração, na urina de 50 gestantes, de um componente químico chamado ftalato, amplamente usado na indústria do plástico que, além de problemas de fertilidade, também causa câncer.
“As concentrações de ftalato que encontramos nas mulheres brasileiras, em 2015, são similares às da segunda metade dos anos 1990 na Alemanha, onde houve um grande declínio desde então. Ele é um desregulador endócrino, e pode prejudicar a vida reprodutiva dos bebês em gestação”, diz.
Ele também preocupa-se com a ingestão de agrotóxicos pelos brasileiros, facilitada pela legislação muito mais permissiva que em países desenvolvidos.
“O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, muito em função de lavouras extensivas de soja e milho. Precisamos estudar mais a saúde reprodutiva dos trabalhadores que lidam diretamente com isso”, argumenta Andrade. “Sabemos que pode estar havendo uma ingestão maior de pesticidas pelos brasileiros, e é provado que isso pode ter uma consequência quanto à fertilidade”, concorda Cornel.
Nota: A Revista Saber Viver Mais divulga conteúdos populares de caráter, muitas vezes, não científico. Procure sempre profissionais da saúde para diagnósticos e tratamentos.
Fonte: Paraiba