Foto: Reprodução redes sociais
Conforme a psicologia, a desordem pode refletir procrastinação, negligência do autocuidado, dificuldades emocionais em desapegar do passado ou até mesmo tendência maior à criatividade
Se passou a vida toda ouvindo que era preguiçoso ou desleixado por estar sempre com o armário bagunçado, pode ser que esse traço de personalidade reflita algum estado emocional ou mental que mereça atenção.
Diversas áreas da psicologia, como a ambiental e clínica, estudam o impacto da organização da casa – ou falta dela – sobre o bem-estar psicológico.
Contudo, é importante ficar atento ao contexto de cada caso, já que as interpretações variam de pessoa para pessoa e dependem das emoções e experiências individuais.
Estresse ou sobrecarga emocional
A autora de “A Mágica da Arrumação”, Marie Kondo, defende que desorganização pode ser sintoma de sobrecarga emocional ou falta de autocuidado.
Ou seja, uma pessoa que está lidando com estresse ou se sentindo sobrecarregada pode ter maior dificuldade em manter a organização doméstica, já que sua mente está focada em outros problemas.
Procrastinação
Algumas pessoas têm dificuldade em organizar espaços porque tendem a adiar tarefas que consideram cansativas ou sem importância, o que pode refletir um padrão maior de procrastinação na vida.
É o que aborda o professor e pesquisador especializado no estudo da procrastinação, Timothy A. Pychyl, que escreveu o livro “Solving the Procrastination Puzzle“.
Na obra, ele explora como a procrastinação em pequenas tarefas – como manter o guarda-roupa arrumado – reflete uma tendência mais ampla em outras áreas da vida, como a carreira profissional ou relações pessoais.
Falta de autocuidado
Um ambiente desorganizado pode ser um indicador de que a pessoa está negligenciando o autocuidado ou enfrentando problemas relacionados à autoestima.
A psicóloga Sherrie Bourg Carter, autora do livro “High-Octane Women: How Superachievers Can Avoid Burnout”, explora como a bagunça pode levar a um aumento nos níveis de estresse, fazendo com que as pessoas se sintam sobrecarregadas e fora de controle.
Segundo Sherrie, não conseguir arrumar o quarto, a casa, ou até a mesa de trabalho pode ser um reflexo de que algo está errado internamente. Por outro lado, o espaço desorganizado reforça ainda mais essa sensação de fracasso e desmotivação, já que viver ou trabalhar em lugares bagunçados podem alimentar sentimentos de inadequação.
Desta forma, a especialista reforça que ao organizar a casa, a pessoa pode recuperar a sensação de controle, o que contribui para melhorar a autoestima e a capacidade de lidar com outras áreas da vida de maneira mais eficaz e equilibrada.
Criatividade e flexibilidade
Pessoas criativas ou que valorizam a espontaneidade às vezes se sentem mais confortáveis em um ambiente menos estruturado. Para elas, a desordem pode ser um reflexo de uma mente aberta e flexível, que não segue necessariamente regras rígidas de organização.
Foi o que apontou a pesquisa conduzida por Kathleen Vohs, professora da Universidade de Minnesota. O estudo, publicado na Psychological Science, sugere que um armário bagunçado, por exemplo, pode, de fato, estimular a criatividade.
A psicóloga e sua equipe argumentam que pessoas que se sentem mais confortáveis em ambientes desorganizados tendem a gerar ideias mais criativas e fora do padrão, que preferem não seguir regras rígidas de organização.
Por outro lado, lugares sempre arrumados incentivam comportamentos convencionais e disciplinados.
Dificuldade em desapegar
A bagunça ainda pode ser um sinal de apego emocional a objetos. Segundo especialistas em transtorno de acumulação, como o Randy Frost, professor de Psicologia no Smith College e coautor do livro “Stuff: Compulsive Hoarding and the Meaning of Things“, muitas pessoas que mantêm ambientes desorganizados ou acumulam objetos fazem isso por motivos emocionais.
O transtorno de acumulação é caracterizado pela dificuldade em descartar ou se livrar de objetos, devido ao valor sentimental atribuído a eles. Isso pode se arrastar ao longo de uma vida inteira.
Essa tendência a não se livrar de objetos, mesmo sem ter onde guardá-los deixando assim tudo bagunçado, pode estar relacionado a dificuldades em desapegar do passado, já que os itens podem representar memórias, segurança ou até mesmo uma tentativa de controlar a ansiedade.
Fonte: ND+
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