Por: Fabrício Carpinejar
Amigos vivem me convidando para almoçar ou jantar: “Passa aqui que tem feijoada”, “Reuniremos cinco casais para beber e tocar violão”, “Espero vocês em minha chácara!”.
Eu logo raciocino: só eu permaneço em isolamento? Fico duvidando da minha sanidade, achando que sou um idiota e venho exagerando.
De repente, estamos em casa sem sermos avisados de que o mundo inteiro já pisa na rua. Pelo jeito, nos tornaremos os últimos a abandonar a quarentena.
Leandro Karnal discerniu com categoria: enquanto a classe média suporta a monotonia, quem está na pobreza aguenta a fome. Não são tempos iguais para todos.
Há quem queira sair e confraternizar, eu pergunto: comemorar o quê?
Os hospitais e cemitérios superlotados?
São mais de quinze mil mortes no país pelo coronavírus. Muitas dessas vítimas são resultados diretos de nossa alienação.
Assistimos por dia quatro rompimentos da barragem de Brumadinho. E assistimos! Não nos encontramos no meio da lama.
As pessoas unicamente mudam de postura quando a morte puxar pela mão um conhecido ou um parente. Daí levarão para o lado pessoal e entenderão da pior forma a gravidade da situação. Será que apenas é possível enxergar a realidade depois das lágrimas? Não pode ser antes da dor?
Não tomar sol, não passear, não frequentar shopping, não ir ao salão, não abraçar os familiares não são privações, mas cuidados, absolutamente viáveis e possíveis. Privado é aquele que se vê sem emprego e sem comida na mesa.
Vamos parar de falar bobagem. É uma guerra civil contra uma doença. Tédio não é sobrevivência.