O neuro criminalista Adrian Raine, pioneiro em pesquisas sobre a mente de criminosos violentos, disse à Vanity Fair estar impressionado com a exatidão que Coringa, filme de Todd Phillips, mostrou ao retratar a psique de um deles.
O professor da Universidade da Pensilvânia disse: “[O filme] foi uma representação surpreendentemente precisa do tipo de contexto e circunstâncias sociais que, quando combinadas, criam um assassino.”
Raine já considera integrar Coringa a um futuro curso da universidade onde leciona. “Por 42 anos eu estudei as causa de crime e violência. E enquanto assistia a esse filme, eu pensei ‘Nossa, que revelação. Eu preciso comprar esse filme e usar partes dele para ilustrar, é uma excelente ferramenta educacional sobre a criação de um assassino.”
“Eu falo de todos esses fatores nas aulas, e é difícil achar uma história real que combina todos os fatores juntos, muito menos um filme estilizado e dramático que enfatiza esses elementos,” explica Raine.
Além de elogiar bastante a atuação de Joaquin Phoenix pelas nuances e graciosidade intrigante, não apenas no comportamento mas também na aparência e manias sociais apresentadas por aqueles que sofrem de transtornos mentais. “Ele certamente estará na disputa do Oscar,” prevê o neuro criminalista.
[ATENÇÃO: a partir deste ponto, o texto contém spoilers do filme]
Raine listou os fatores presentes em Coringa que definem o declínio de Arthur Fleck: abuso físico, negligência e subnutrição na infância. A pobreza é um fator que aumenta o risco.
A adoção é um fator que, segundo o pesquisador, “aumenta de duas a três vezes a propensão a se tornar um criminoso, pois aumenta as taxas de violência que a criança sofre e pratica, devido a separação da mãe durante um período crítico de formação da personalidade.”
O professor universitário foi rápido em acrescentar que “a ligação entre problemas de saúde mental e violência é, claro, controversa,” assim como o filme.
“Não queremos estigmatizar pessoas com problemas mentais como perigosas. Mas sabemos que a doença mental é uma predisposição significativa à violência, que precisamos reconhecer para que as pessoas possam ser tratadas.”
Raine disse que o filme também foi surpreendentemente preciso ao mostrar como Fleck foi progredindo em direção à “agressão reativa”. Ele esclareceu: “As pessoas com doenças mentais não andam por aí matando ou assaltando bancos. Não, eles reagem emocionalmente por impulso. É impulsivo e emocional.”
Arthur matar a mãe após descobrir que foi adotado e o colega de trabalho Randall em face à revelação de que ele contribuiu para a demissão do protagonista são casos de agressão reativa, resultados de estresse emocional.
Quando perguntado sobre como diagnosticar o personagem de JoaquinPhoenix, Raine diz que ele claramente sofre de depressão e transtorno de personalidade esquizotípica, fonte das ilusões nas quais ele se perde no filme, e com certeza não foi medicado corretamente.
Horas depois de assistir ao filme, Raine ainda estava maravilhado com o retrato autêntico de um assassino, por mais fictício que seja. “Não acho que o Coringa tivesse livre arbítrio, dada a vida dele.”
“Ele era uma bomba-relógio – bastou algum estresse significativo na vida, espancamentos e a perda de um emprego para ele explodir. Você não tem mais nada … Os fatores de risco bem documentados – esse era o destino [do personagem]. Ninguém nasce nesse tipo de violência.”
Fonte: Rollingstone
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