Dos 45 alunos que iniciaram o curso de artes cênicas pela Universidade Federal do Acre (Ufac), somente seis se formaram. Entre os formandos está dona Ivete de Souza 70 anos.
“Nunca é tarde para as pessoas estudarem. Comecei com 65 anos, estou com 70 e com espírito de 20 anos e ainda fui convidada pelo reitor para fazer o mestrado”
Essa semana aconteceu a colação de grau e a nova atriz ganhou uma homenagem especial dos colegas, professores e até da reitora da universidade.
O Sonho
Ivete conta que nasceu em um seringal e na adolescência pediu para os pais para ir à cidade estudar, o tempo passou, porém ela nunca desistiu de lutar, sempre foi em busca de alcançar seu espaço.
“Tinha entrado pelos 16 anos quando pedi para ele [pai] para voltar para cidade. Eu dizia que iria trabalhar nem que fosse de doméstica, mas que não ia ficar no seringal. Agora lá vou me casar com seringueiro, meu futuro não era esse não. Eu queria era continuar a estudar”, contou.
Ela trabalhou dia após dia em várias profissões como auxiliar de enfermagem, faxineira, serviços gerais, na saúde e educação. Mas o sonho de estudar continuava latente dentro dela. No fim dos anos 90 ela teve a oportunidade de terminar o ensino médio aos 50 anos.
“Eu continuei com meus estudos, fiz o ensino médio, aí quando terminei e parei de novo”. Mas após essa pausa Ivete só retornou para uma sala de aula em 2014, para o maior desafio da sua vida o ensino superior.
O Enem
“Uma amiga minha que formou-se no dia 20 de março em letras me convidou para fazer o Enem. Aí eu falei: ‘rapaz, faz tempo que eu não estudo, não tenho mais condições de estudar’. Ela disse: ‘que nada, a senhora é jovem, tem capacidade de fazer’. Até que eu falei para ela fazer minha matrícula e resolver tudo. Fiz a prova, em janeiro quando deram o resultado, ela soube que eu tinha passado e me ligou contando. Entrei nessa faculdade através dela”, lembrou.
O teatro
Dona Ivete, conheceu o teatro nos anos de 80 através de um amigo, desde então ela continua no mundo da arte, e essa escolha influenciou na decisão de escolher a área das artes cênicas. “História, geografia, não sei o que, eu não queria nada disso. Até que chegou em teatro, aí eu disse: ‘caiu a sopa no mel’ e coloquei esse daí. Passei de cheio em artes cênicas”, disse.
Dona Ivete foi a inspiração durante os anos de graduação. “Eu tinha ajuda da moçada jovem e também ajudava eles. Ontem eles falaram que estavam muito felizes porque eu era a inspiração deles. Agradeceram muito a Deu e a mim por terem continuado, muitos viviam nas drogas e pararam ou deram um tempo até se formar. Eu chorei de felicidade”, falou Ivete emocionada.
Com informações: G1