Por: Saber Viver Mais
Segundo Renata Brasil Araújo, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), houve um aumento considerável no consumo de álcool durante o período de isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Entretanto essa aumento não ocorreu somente no Brasil, mais sim em todo o mundo.
Grande parte é porque mesmo que tenha sido fechado bares e pubs, o comércio de bebidas continuou livremente em supermercados, lojas de conveniências e distribuidoras de bebidas.
Dois fatores contribuiram para gerar essa dependência do alcool: ansiedade e depressão
Um relato do britânico Chris McLone, mostra muito bem esses sentimentos. Chris começou o ano com uma sensação que seria um ano diferente e que teria boas coisas acontecendo.
Perto de completar 50 anos, estava com uma carreira consolidade na área de vendas e se sentia mais saudável e em forma como nunca, porém viu tudo mudar com a chegada da pandemia.
Ele conta que nas primeiras semanas da quarentena ele viu que a necessidade de ingerir alcool deixou de ser só porque gostava e passou a ser porque precisava sempre de uma bebida.
“Eu suponho que sempre fui uma pessoa que bebia socialmente — eu nunca ficava dentro dos limites recomendados, então, sim, eu gostava de beber, às vezes um pouco mais do que deveria, como muitas pessoas.”
“Eu estava bem antes da quarentena, eu estava me mantendo em forma, eu estava nadando cinco vezes por semana, eu estava indo bem no trabalho e eu estava com uma mentalidade boa, sendo sincero.”
Ansiedade e depressão
Durante a pandemia a filha de Chris que trabalhava em um dos setores da economia, não parou de trabalhar e para proteger o pai do coronavírus, resolveu sair de casa e morar com outra pessoa, deixando Chris morando sozinho.
Isolado, ansioso e com início de uma depressão, ele começou a ter dúvidas do que o futuro lhe reservava. Isso o levou a aumentar o consumo de álcool e ele passou a beber cada dia mais e mais.
Sinais de abstinência
Chris conta que começava a sentir abstinência quando tentava ficar sóbrio. “Apesar de eu querer reduzir e parar naquele momento, eu não estava mais em controle. E essa foi a parte mais assustadora.”
“Eu nunca me senti assim na vida e tive que admitir isso para mim mesmo. Eu estava bebendo muito cedo na manhã para parar com os sintomas de abstinência.”
“Eu prometia a mim mesmo que não faria isso no dia seguinte. E é claro, a mesma coisa acontecia no dia seguinte. E foi aí que percebi que eu teria que dar um passo grande para procurar um tratamento de verdade.”
Ele teve ajuda da família e passou a frequentar o programa de reabilitação para dependentes de drogas e álcool na sua região.
Chris já está sóbrio há 70 dias. “Onde eu estava antes, era um lugar horrível e escuro, e a sobriedade é fantástica. Eu não consigo explicar o quão bem eu me sinto.”
Longe de ser o único
Uma das pessoas que ajudou Chris foi o médico Rob Hampton, especialista em vícios. Ele diz que o vendedor está longe de ser o único. Segundo o médico houve um grande aumento no número de pessoas buscando ajuda durante a pandemia.
“Quando ouço as histórias, essas são pessoas que, há poucas semanas, estavam funcionando bem, mantendo seus empregos, vivendo vidas normais no cotidiano. Em três semanas, eles se tornaram alcoólatras em necessidade de reabilitação e desintoxicação.”
“Se você olhar para o que a quarentena significa para a vida das pessoas. Alguém me fez uma colocação perfeita: ‘todo dia é sexta-feira agora’. Não temos mais motivos para sair da cama pela manhã.”
“Você acrescenta a isso a solidão que muitos sentem, a insegurança no emprego e todo tipo de estresse e problema em relação à incerteza com o futuro.”
A British Liver Trust, entidade britânica que auxilia pessoas com problemas de alcoolismo, conta que registrou um aumento de 500% em ligações desde que a quarentena começou.
Outra estátistica que preocupa é o número de mortes realacionadas com doenças relacionadas do fígado, que houve um crescimento 400% desde 1970.
O segredo é substituir a bebida por outras atividades
É importante encontrar outras formas de recreação que possam substituir a bebida, como livros, filmes, conversar com as pessoas que estão em quarentena com você ou mesmo as distantes através de teleconferências, praticar atividades físicas ou brincar com um pet . O álcool não precisa ser a única forma de lidar com a situação.
“Eu acho que o melhor conselho que posso dar é: seja honesto. Seja honesto consigo mesmo, seja honesto com os outros, conte para todos o que você está passando. Não é só mais um estigma, como era no passado. É uma doença”, alertou Dr. Rob Hampton.
Com informações: G1