Por: Alexandre Cardoso
Quem vê a médica Marina Aguiar, de 31 anos, nos corredores da unidade de saúde, não imagina que aquela jovem doutora, que dedica grande parte dos seus dias cuidando de pacientes com câncer, enfrentou a mesma doença, há mais de 10 anos e chegou a ser desenganada pelos médicos.
Foi durante o tratamento contra leucemia, aos 18 anos, que ela decidiu cursar Medicina. “Percebi a importância de médicos que acreditem na recuperação dos pacientes. Isso me motivou a querer ajudar pessoas que vivem algo semelhante ao que enfrentei”, conta à BBC News Brasil.
Para realizar o seu sonho, ela abriu mão do seu curso de Odontologia e enfrentou a desconfiança de parentes, que ficaram preocupados com as dificuldades que a jovem enfrentaria na época, pois ainda estava em tratamento.
Mas antes da conquista do tão sonhado diploma, Dra. Marina, enfrentou algumas situações que a deixaram abalada, tratamento que não deu resultado, falta de doadores compatíveis de medula óssea e um médico que não acreditava em sua cura.
“Fiquei triste muitas vezes. Mas sempre tentava acreditar que tudo daria certo em algum momento”, diz Dra. Marina Aguiar. Ela considera que o diploma de Medicina é a sua maior vitória contra a doença.
Marina foi aprovada no vestibular de odontologia na Universidade Federal de Goiás (UFG). Mas em março de 2006, em meio a alegria de iniciar na universidade, uma situação passou a preocupar a adolescente: as frequentes dores nas pernas.
“Fui a diferentes médicos, mas alguns diziam que eram dores psicológicas, em razão da minha preocupação com os estudos. Outros diziam que eram dores relacionadas à coluna. Cheguei a fazer fisioterapia para ver se melhorava”, diz.
Ela chegou a fazer tratamento para a anemia, porém não surtiu efeito. Até que em agosto de 2006, cinco meses após o início das dores, Marina fez uma ressonância magnética, que apontou alteração em sua medula óssea.
Após ser encaminhada para um hematologista que pediu exames mais aprofundados, o especialista chamou a mãe de Marina , a educadora física Keila Aguiar, e comunicou sobre a doença da jovem, que havia recém-completado 18 anos.
Marina havia sido diagnosticada com leucemia linfocítica aguda (LLA), doença na qual as células que normalmente se transformam em linfócitos – glóbulos brancos que atuam na defesa do organismo – se tornam cancerosas e substituem rapidamente as células saudáveis da medula óssea. “Descobri que as intensas dores que eu tinha na perna eram no fêmur, na região da coxa, que é uma área do corpo em que também se encontra a medula óssea. Eram dores causadas pela leucemia”, diz a jovem.
A descobrir a doença a mãe da adolescente ficou consternada, ela não tinha muitas informações sobre a leucemia e chegou a pensar que a doença poderia ser uma sentença de morte para a filha. “Comecei a chorar muito quando soube. Perdi o chão. Fiquei arrasada. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer com a minha filha”, relembra a mãe.
No mesmo dia do diagnóstico, ela foi internada em uma unidade de saúde pública de Goiânia, cidade onde nasceu e morava na época. O plano de saúde dela não cobria quimioterapia ou qualquer tratamento contra o câncer.
“O médico me disse que se eu demorasse mais uma semana para descobrir a doença, talvez não estivesse viva. Foi muito pesado passar por isso. Eu só pensava nos meus planos que teria que deixar de lado, como a faculdade que eu tinha acabado de começar”, diz.
Nos primeiros dois meses de tratamento, os médicos notaram que os resultados eram pouco satisfatórios. Por isso, orientaram que Marina deveria passar por um transplante de medula óssea. “Meus pais e meu irmão fizeram exames para ver se poderiam me ajudar, mas não eram compatíveis”, diz a médica.
Após oito meses do início do tratamento, as quimioterapias foram finalizadas com resultados insastifatórios, pois as células cancerosas continuavam na medula óssea da jovem. “Recebi alta hospitalar sem nenhuma expectativa de cura. O médico que me acompanhava me disse que eu poderia fazer um tratamento mais simples, que hoje sei que não me curaria, era uma medida paliativa, só para me dar um pouco mais de tempo de vida.”
Os pais se desesperaram, mais resolveram seguir o conselho de um médico conhecido da família e gerar um novo filho. O casal então recoreu à fertilização in vitro. Era o único método viável, pois a mãe, na época com 39 anos, tinha feito laqueadura depois do nascimento do filho caçula, 12 anos antes. “Quando descobri que ter mais um filho era um modo de tentar salvar a Marina, não pensei duas vezes”, diz a mãe.
O primeiro procedimento não deu certo. “Eu precisava de repouso, mas como passava o dia inteiro com a Marina no hospital, enquanto o meu marido cuidava do nosso filho caçula, acabei não conseguindo seguir as orientações médicas”, diz a educadora física.
Na segunda fertilização, a mãe passou mais tempo em repouso e engravidou de gêmeos. “Foi uma alegria imensa, porque ali pensei que poderia salvar a minha filha”, diz. A expectativa era tentar fazer o transplante por meio da coleta de sangue do cordão umbilical de um dos recém-nascidos.
Porém após um parto complicado os bebês nasceram prematuros e foi preciso esperar um ano para que pudessem enfim fazer o exame de compatibilidade. “Fiquei arrasada, porque o nosso maior objetivo era que o sangue de um dos cordões umbilicais pudesse ajudar a minha filha”, diz a mãe.
Mas o resultado do exame constatou que nenhum dos dois bebês era compatíveis com Marina. “Quando soube disso, parece que um buraco se abriu sobre mim. Foi horrível saber que eu não conseguiria ajudar a minha filha”, conta a mãe.
Em abril de 2007, quando encerrou os meses de quimioterapia, Marina optou por não fazer o novo tratamento proposto pelo médico que a acompanhava e procurou outro especialista no Hospital do Câncer de Goiás (HCG).
No HCG, ela conheceu o hematologista César Bariani. “Ele me fez ter esperanças de que poderia me curar. Isso foi muito importante naquele momento”, diz a hoje médica. O especialista deu início a um tratamento definido como uma intensa quimioterapia de manutenção na paciente. O tratamento era mais fraco que o primeiro, e Marina não precisou ficar internada. Dessa vez, ela não perdeu todo o cabelo e nem teve fraqueza extrema.
“Muitos pacientes não aguentam chegar a essa segunda fase, quando não conseguem a cura no primeiro tratamento. Acredito que eu tenha conseguido porque era muito jovem”, afirma.
Ela deveria fazer o procedimento somente enquanto aguardava um doador de medula. Uma das expectativas, no início da quimioterapia de manutenção, era aguardar os exames de compatibilidade nos irmãos gêmeos dela.
No novo tratamento, ela conseguiu participar presencialmente das aulas do curso de odontologia. No tratamento anterior, teve que entrar com recurso na Justiça para conseguir autorização para cursar as disciplinas a distância.
Marina conta que a preocupação com os estudos esteve presente desde o primeiro dia em que foi internada para tratar a leucemia. “Não queria perder nenhum semestre”, diz.
Na época em que estudou a distância, colegas de classe a visitavam no hospital para ajudar a jovem com os conteúdos. “Mesmo internada e fazendo um tratamento muito agressivo, nunca reprovei”, diz. Apesar de fragilizada, ela reservava horários para estudar. Os professores iam até o hospital para aplicar as provas.
Ela concluiu os primeiros semestres de Odontologia sem reprovar em nenhuma disciplina.
Enquanto estava fazendo manutenção na quimioterapia, Marina tornaria médica. “Nos meses em que fiquei internada, me encantei pela medicina. Mas decidi, de fato, que seguiria por essa área nesse começo da quimioterapia de manutenção.”
“Quando o doutor César Bariani me deu esperanças, enquanto o médico anterior tinha me dito que não havia mais alternativas, decidi que queria fazer medicina para que também pudesse dar esperanças para outros pacientes”, diz ela.
Em dezembro de 2007, a jovem prestou vestibular para medicina em uma universidade particular de Goiânia. Foi aprovada. No início de 2008, ela trancou o curso de odontologia e ingressou na faculdade de medicina. Por causa da quimioterapia de manutenção, ela combinou com os diretores da nova universidade que faltaria alguns dias da semana para fazer o tratamento.
O curso particular foi pago pelo pai da jovem. “Mesmo com algumas dificuldades, porque o curso de medicina custa caro, ele me apoiou”, relata.
Marina se dividia entre as aulas de medicina e o tratamento contra a leucemia. No início de 2009, quase dois anos após começar a quimioterapia de manutenção, a jovem estava sem esperanças, após descobrir que os irmãos não eram compatíveis, ela não tinha nenhum outro possível doador de medula. O médico disse que ela teria que parar com o tratamento, pois seu organismo não suportaria.
Quando ela suspendeu o tratamento, fez novos exames, que apontaram que não havia mais células cancerosas em sua medula óssea. Porém, por ser um tratamento de manutenção e mais fraco que o primeiro, as chances de a leucemia voltar eram consideradas altas.
“Depois que terminei a manutenção, passei a realizar exames semanais, para que qualquer retorno da doença fosse descoberto logo no início. Com o tempo, esses exames se tornaram quinzenais, depois mensais, trimestrais e assim foi indo. Os anos foram passando e a doença nunca retornou”, diz a médica.
Hoje, ela é considerada curada. “É preciso esperar 10 anos, depois do fim do tratamento, para atestar a cura”.
Ela classifica a sua cura como um milagre. Evangélica, Marina faz uma cerimônia religiosa todos os anos, desde o fim do tratamento, para comemorar. “Tenho certeza de que a atenção dos médicos que acreditaram na minha cura e a minha fé foram fundamentais”, diz.
Em dezembro de 2013, ela se formou em medicina. “Foi uma emoção muito grande”. Ao concluir o curso, ela fez dois anos de residência em clínica médica, na qual há estudos sobre diferentes áreas da profissão, e mais dois anos de residência em hematologia, para cuidar, principalmente, de pacientes que também lidam com a leucemia.
A especialização em hematologia foi feita no HCG, onde ela tinha feito o tratamento contra a leucemia por dois anos. “Fui a primeira residente em hematologia no hospital. Foi muito importante para mim trabalhar ali. No começo, os médicos tinham receio e pensavam que poderia me prejudicar emocionalmente, por eu ter me tratado ali. Mas eu sempre disse que tinha certeza de que queria ficar ali”, diz.
“Trabalhei no HCG por dois anos, durante a minha residência. Deu tudo certo. Muitos funcionários, que me acompanharam como paciente, ficaram felizes em me ver como médica”, relata.
No início deste ano, ela concluiu a especialização em transplante. Aguiar planeja, até o começo de 2020, fazer o seu primeiro transplante de medula óssea, em um paciente que ela acompanha no hospital particular em que trabalha desde abril, em Brasília.
A intenção de auxiliar os pacientes até onde puder, que ela tem desde que decidiu cursar medicina, é algo que a médica carrega consigo. “Sempre quero dar o meu máximo para poder ajudar. Sei que nem todas as vezes vai ser possível, mas sempre quero ter a certeza de que fiz tudo o que pude”, afirma.
Via:R7
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